Ocupação Cai, mas Hotéis Elevam Tarifas e Receita Sobe no Trimestre

Ocupação Cai, mas Hotéis Elevam Tarifas e Receita Sobe no Trimestre

Jornal Valor Econômico, 19/05/2009
Os hotéis perderam hóspedes por conta da desaceleração econômica e mesmo assim aumentaram preços e receitas. Soa como um contrassenso, mas foi a estratégia usada pelo setor de hospedagem no primeiro trimestre e dá mostras de ter funcionado.

O movimento de retração da demanda e de elevação dos preços se aplica tanto aos empreendimentos de gestão independente quanto àqueles filiados a redes hoteleiras. Nesse segundo grupo, os hotéis perderam 5,6% dos seus clientes de janeiro a março e a ocupação média dos apartamentos caiu de quase 61% para 57%, em relação a igual período de 2008. Em compensação, as diárias subiram 10,1%, de R$ 152,6 para R$ 168,1. Assim, a receita gerada por cada quarto – vazio ou ocupado – cresceu 3,9%, para R$ 96,5. Os dados são do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb) e englobam 309 hotéis filiados a redes e 43 mil apartamentos no total.

No caso dos hotéis independentes – 18 mil no país com um total de 1,1 milhão de quartos, segundo a Abih, associação que representa o segmento -, não há indicadores de desempenho. Mas é possível ter uma ideia da oscilação dos preços com base na inflação medida pelo IPCA. O aumento de preços na categoria hotel foi de 4,35% no primeiro trimestre, bem acima da inflação geral do período de 1,23%.

“Antes de o ano começar, tínhamos expectativas piores. Foi um primeiro trimestre bom e deve melhorar daqui para frente”, afirma Rafael Guaspari, presidente do Fohb. Ele lembra que há diferenças relevantes conforme a categoria ou localização do hotel. Os empreendimentos econômicos, por exemplo, registraram aumentos percentuais de receita maiores do que os hotéis de categoria intermediária ou superior nos três primeiros meses de 2009. Já hotéis localizados em cidades como Rio e Recife tiveram crescimento ao longo de todo o trimestre, enquanto aqueles em praças como Vitória e Belo Horizonte amargaram retração em janeiro e fevereiro, recuperando-se em março.

Ronaldo Albertino, diretor geral da Hotelaria Brasil, administra sete empreendimentos em São Paulo e no Rio de Janeiro e diz ter obtido resultados bastante diferentes nos primeiros meses do ano, conforme a localidade dos hotéis. “Não tem muita coerência ou explicação: em cidades como Macaé e Campinas houve um forte crescimento e em Guarulhos e Osasco, queda acentuada”, diz. “Por enquanto, nenhum dos hotéis superou as metas estabelecidas, mas não é nenhuma desgraça.” Albertino pontua que a comparação entre 2009 e 2008 fica prejudicada porque o ano passado foi “espetacular” e seria de qualquer maneira difícil superá-lo.

Do lado das redes multinacionais presentes no Brasil, a avaliação é que as operações brasileiras estão reagindo melhor do que em outros países. Sebastián Escarrer, vice-chairman do grupo espanhol Sol Meliá, afirma que os hotéis administrados pela empresa no país estão sendo menos afetados. Já Ed Fuller, presidente da americana Marriott, diz que os hotéis brasileiros estão sendo beneficiados porque têm boa localização e “porque o turismo de negócios está ainda indo bem mesmo na crise”.

Se as redes, responsáveis pela administração dos hotéis, não reclamam, o que dizem os investidores que têm cotas nesses empreendimentos? “A crise retardou um pouco o processo de aumento das diárias e da ocupação dos hotéis, mas o setor continua se recuperando”, diz Guilherme Cesari, que gerencia o fundo Hotel Max Invest, com uma carteira de 585 “flats” em 50 hotéis na capital paulista.

Cesari afirma que, no primeiro trimestre como um todo, a renda obtida por apartamento foi apenas 2% superior à registrada no mesmo período de 2008. “Mas, se isolarmos o mês de março, o aumento foi de 10,3%”, diz. A projeção de Cesari é que a renda por apartamento mantenha-se em crescimento e, em 2009, acumule uma alta total de 10%.

É uma elevação bem menor do que a obtida em 2008, de 36%, ou em 2007, de 33%. Mas isso não quer dizer que o investimento nos “flats” deixou de ser atraente. “As diárias numa cidade como São Paulo ainda estão muito defasadas em relação a outras cidades brasileiras e internacionais. Elas devem continuar em crescimento e as taxas de ocupação permanecem altas, em torno de 70%”, afirma.

Guaspari, do Fohb, afirma que o principal impacto da crise se deu até agora sobre o volume de eventos realizados nos hotéis. “A queda foi de 20% a 30%”, diz o executivo.

No entanto, para a empresa Banco de Eventos, uma das maiores do setor, o primeiro trimestre não trouxe queda e sim um aumento pequeno nas vendas – 1,2%, para R$ 25,1 milhões. Segundo Andrea Galasso, diretora geral da companhia, 2009 já apresenta o segundo melhor desempenho dos últimos quatro anos. Mas no topo do ranking está 2008. “O ano passado foi totalmente fora da curva em termos de crescimento e acho que o que estamos vivendo hoje é, na verdade, o normal”, diz. (Colaborou Vanessa Jurgenfeld, de Florianópolis)
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